14 dezembro, 2011

Motorocker: Entrevista de Pico e Thomas à Revista Guitar Player


Entrevista publicada na edição nº 179,  março de 2011.

O SIGNIFICADO DO ROCK HOJE EM DIA
anda bastante desgastado. Não por falta de talento, mas pelas péssimas opções que a grande mídia nos empurra goela abaixo. Artistas de competência duvidosa ganham espaços que poderiam ser ocupados por nomes de alto calibre que encontram-se Brasil afora. Mas fazer o quê?


A resposta a esta pergunta conformista é dar atenção ao que de bom está realmente acontecendo por aí. Por exemplo, os curitibanos do Motorocker, que fazem o que podemos, de fato, chamar de rock. Tem pegada, boas letras, refrãos dignos do estilo e guitarras a milhão. Eles passaram muito tempo como um dos melhores AC/DC Cover do país (reconhecidos pelos próprios ídolos), mas ja estão cada vez mais distantes disto.

Luciano Pico (Guitarra), Thomas Jefferson (Guitarra), Marcelus dos Santos (Vocal) , Silvio Krüger (Baixo) e Juan Neto (Bateria) encontraram uma trincheira própria - embora ainda haja resquícios de AC/DC. Rock na Veia, seu novo álbum, é um ótimo trabalho. Possui todos os predicados do rock e não deixa de ser um rito de passagem para uma frase mais autoafirmativa do grupo.

Com Rock na Veia, a banda parece mais esclarrecida em relação a uma identidade própria. Soa menos AC/DC. Vocês acreditam terem encontrado uma identidade?

- Luciano Pico: Com certeza! Quem nunca ouviu falar da banda jamais irá nos comparar ao ACDC depois de ouvir Rock na Veia. Encontramos a veia do Motorocker com este disco. A sonoridade ficou diferente em relação ao Igreja Universal do Reino do Rock (disco anterior), com uma pegada mais forte e autêntica.
- Thomas Jefferson: O Motorocker encontrou sua verdadeira identidade e será lapidada ainda mais nos próximos trabalhos.

Faixas como Aonde você vai eu não vou, Jogos de Azar, Zanon e Brasil reunem o forte do albúm: riffs possantes e solos muito bons, otimizados pela qualidade da gravação. Foi um disco fácil de fazer?

- Thomas: Não, nada fácil! Todos trabalharam duro para chegar ao resultado final. A pré-produção foi algo extremamente importante para definição e direção musical das canções. Agregando isso aos recursos que os bons estúdios oferecem hj em dia, estes foram os fatores determinantes para que realizássemos um bom trabalho. Amadurecemos muito neste CD, como pessoas e como músicos.

Para uma banda que ficou conhecida prestando tributo ao AC/DC e que levou treze anos para lançar seu primeiro disco, é difícil desvencilhar o som da imagem do cover?

- Luciano: Isso é algo que o Motorocker está sempre se colocando a prova. Mas Rock na Veia está mais com a cara da banda. Muitos fãs nos dizem que sentiram uma grande evolução em relação ao primeiro álbum. E é legal escutar isso daqueles que mais podem criticar o nosso trabalho, tanto par ao lado bom quanto para o lado ruim, que são nossos fãs. Pela história que passamos como cover, o fato de sermos comparados ao ACDC sempre nos rondou. O álbum Igreja Universal do Reino do Rock trouxe elementos muito fortes da famosa banda australiana, assim como de Black Sabbath, Motörhead, Nazareth e Slade - banda que inspirou o "Aleluia" na faixa-título. Quem é bicho-grilo lembra bem disso, e não é ACDC. Contudo, a sonoridade que lembra bastante os caras, o que é bom! Melhor que nos compararem ao Oasis ou U2 (risos).
- Thomas: Essa comparação com o AC/DC acontece em virtude, principalmente, do vocal rasgado do Marcelus. Porém, não conseguiria comparar Rock na Veia com o AC/DC. Apesar da influência, os elementos musicais são bem distintos.

O diálogo de guitarra entre vocês também traz diferenças. Está mais fluente nos arranjos e timbres.

- Luciano: Em Igreja Universal do Reino do Rock, todos os solos foram feitos por mim até porque, quando o Thomas entrou na banda, já estávamos em processo de gravação. Em Rock na Veia, o segundo solo da faixa Vamo Vamo é do Thomas. Na música Homem Livre, os violões ficaram por conta do Thomas também, inclusive os solos, em que ele realizou um grande trabalho. Para mim é um orgulho dividir solos com ele. Não sou do tipo "sou o guitarrista-solo". Acho isso horrível. O que importa é o melhor para a banda.
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Thomas: Para mim, não exista tal divisão de solo e base, mas sim, o que é melhor para as músicas. Guitarras tem de trabalhar juntas e com muito punch e, para isso, a amizade e o respeito musical entre os musicos são fundamentais. Em Homem Livre, o solo foi uma coisa natural pra mim, quase que de imediato. A faixa tem uma pegada mais country e trata-se das velhas pentatônicas, além de algumas cordas soltas. Em Vamo Vamo, sente um lance meio flamenco/cigano na música, em virtude de ser em tonalidade menor. Esse foi o caminho para o solo.

Como foram captadas as guitarras? Às vezes, dá a impressão de que o mesmo guitarrista gravou simultaneamente som limpo e distorcido.

- Luciano: Isso acontece por termos conseguido harmonizar bem as duas guitarras. Às vezes, também dá a impressão de haver uma só. Foi por conta da química que conseguimos para as duas guitarras. Ficaram tão harmoniosas que há momentos em que não se percebe a distinção entre elas. Usei minha Gibson SG e um amp Staner Tube Power 100 valvulado, com um falante Celestion Vintage 30. Para captação, utilizei microfone Shure SM-57. Não foi usado nenhum pedal. Os drives vêm direto do amp.
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Thomas: Usei minha Gretsch Nashville 6120 plugada em uma Mesa/Boogie Triple Rctifier (Canal 1), caixa Marshall JCM2000 2x12, microfone Sennheiser E609, cordas .011 e "mão de macaco" (risos). Os violões foram Martin e um velho Hiunday folk que tenho. Depois de alguns anos tocando com o Pico, vejo que desenvolvemos certa sintonia, que também rola ao vivo. É quase como já soubéssemos como o outro vai tocar certos trechos.

A balada Homem Livre tem ótima melodia e excelentes sons de violão - sem contar o solo. Vocês a posicionaram quase na metade do repertório para dar um respiro bem-vindo em relação a paulada do disco?

- Thomas: Exato! Essa música é magnífica! Quando o Marcelus me mostrou, fiquei "de cara" primeiro pela letra, e segundo, porque eu já tinha todo o arranjo dos violões meio que pronto na minha cabeça. Na real, acredito que essa música acabou se tornando acústica por esse motivo. Lembro de como se fosse hoje de quando disse: " Cara, deixa eu fazer essa música como está na minha cabeça e depois decidimos se será assim ou não". Agradeço a todos da banda por confiarem em mim. Conseguimos um bom resultado.

Além de levadas mais hard rock, há elementos da música caipira, blues e um belo trabalho de slide. O que vocês estavam ouvindo enquanto compunham o álbum?

- Luciano: Sobre o trabalho de slide, tudo começou com a faixa Meio Caipira. Eu nunca tinha usado slide na minha vida - nem estudei guitarra seriamente. O que sei foi tudo aprendido de ouvido. A melodia da música pediu slide. Como eu não sabia nada sobre slide entrei no Youtube e o primeiro vídeo que achei foi de Warren Haynes, do Allman Brothers. Achei uma pequena lição sobre slide e era exatamente o tom de Meio Caipira. Tudo o que eu precisava. Aí viajei um pouco e criei os riffs. Logo depois, o Marcelus e o Thomas me apresentarem uma prévia da música Acelera e Freia e me falaram que teria slides nos intervalos. Pensei: "Me ferrei!" Então deixei rolar e o resultado foi bem legal!
- Thomas: Além de guitarrista sou, violeiro e fã incondicional do Tião Carreiro. Tenho isso no sangue desde criança. A viola me abriu muito a cabeça, musicalmente. Encontrei os parceiros certos e a influência da música caipira acaba rolando de forma natural.

Curitiba tem uma cena fortemente movida a AC/DC, Beatles e Rolling Stones, além de blues e rockabilly. Tem bons músicos e costuma estar na rota das turnês internacionais de grandes nomes do rock/metal. Por que poucas bandas daí conseguem destaque no cenário nacional?

- Luciano: Há excelentes bandas e grandes músicos em Curitiba, como em muitos lugares no Brasil. O que acontece é que a grande maioria se sujeita a ficar tocando toda semana no mesmo bar, criando um círculo vicioso. Às vezes, isso se torna muito cômodo e faz com que se esqueçam de correr atrás de lugares diferentes. Tipo " Para que sair da minha toca, onde meus trocados são garantidos, e me arriscar a ' levar fumo? ".
Contudo, se esquecem de que, para fazer uma banda crescer, tem de dar a cara para bater, nem que no final do mês cortem sua água ou luz! O que importa é divulgar a banda, custe o que custar. O resultado irá aparecer. Nós estamos fazendo nossa parte, tocando em muitos lugares diferentes, onde nunca havíamos sonhado em tocar, e isso só tende a crescer.
- Thomas: Esse é um fato que acontece no Brasil todo. Porém, na maioria dos casos, sinto muita falta de humildade. Muitos não se sujeitam a isso ou aquilo e só colocam defeito em tudo. Se esquecem de fazer por sí e pelos companheiros de banda.

Fonte: Motorocker.com.br

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